Durante o G20, realizado neste novembro de 2024. O Brasil e a China assinaram cerca de 40 acordos, marcando um novo capítulo nas relações comerciais entre os dois países. Esses acordos abrangem diversas áreas, com destaque para a agricultura, tecnologia e infraestrutura, e prometem impulsionar o agronegócio brasileiro e solidificar a China como o principal parceiro comercial do Brasil. No entanto, apesar das oportunidades promissoras, há desafios significativos a serem enfrentados, especialmente em relação à certificação sanitária e aos impactos econômicos para o mercado interno.
O Brasil firmou acordos que expandem suas exportações de miúdos de suínos e bovinos, além de frutas tropicais, para o mercado chinês. A China, com sua vasta população e crescente demanda por produtos agrícolas de qualidade, representa uma oportunidade sem precedentes para os produtores brasileiros. Estima-se que esses novos acordos possam gerar um incremento anual de mais de 500 milhões de dólares nas exportações brasileiras. Isso não apenas fortalecerá a balança comercial do país, mas também poderá estimular investimentos em infraestrutura e tecnologia agrícola.
Entretanto, para acessar esse mercado lucrativo, o Brasil deve atender aos rigorosos padrões sanitários exigidos pela China. A certificação sanitária é um processo complexo que envolve diversos níveis de controle e cooperação entre as autoridades dos dois países. Os produtos brasileiros devem ser rastreáveis desde a origem até o ponto de venda, garantindo que cada etapa do processo de produção atenda a padrões de qualidade e segurança alimentar. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) do Brasil, em colaboração com a Administração Geral de Aduanas da China, estabeleceu um sistema de certificação eletrônica que visa agilizar e garantir a segurança das transações comerciais. Esse sistema não apenas facilita o intercâmbio de dados, mas também assegura que os produtos exportados atendam aos requisitos sanitários chineses.
A implementação de modelos específicos de certificados veterinários e a exigência de que os estabelecimentos exportadores sejam devidamente habilitados e registrados são medidas essenciais para assegurar a conformidade com as normas internacionais. Além disso, as práticas de inspeção e controle devem ser rigorosamente seguidas, com foco na prevenção de doenças e na garantia da qualidade dos produtos. A rastreabilidade é outro aspecto crucial, permitindo que qualquer problema seja rapidamente identificado e resolvido.
Um ponto adicional de interesse é a moeda em que essas transações serão realizadas. Com o fortalecimento do bloco BRICS, que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, há um movimento crescente para realizar transações em moedas locais, como o yuan chinês, em vez do dólar americano. Essa mudança pode ter implicações significativas para o Brasil. Realizar transações em yuan pode reduzir a dependência do dólar, diminuir os custos de transação e proteger o Brasil das flutuações cambiais do dólar. No entanto, também pode exigir ajustes na política monetária e nas estratégias de hedge das empresas brasileiras (estratégia financeira que visa proteger investimentos contra perdas causadas por flutuações do mercado), todavia, esta escolha do bloco, diversa do dólar, tem potencial para dificultar relações com o governo americano e seus parceiros.
Contudo, as vantagens comerciais desses acordos também trazem implicações para o mercado interno. Com o aumento das exportações, pode haver uma pressão sobre a oferta de produtos no mercado doméstico, potencialmente elevando os preços para os consumidores brasileiros. Isso exige uma gestão cuidadosa para equilibrar as necessidades de exportação com o consumo interno, garantindo que o agronegócio continue a ser um pilar de sustentabilidade econômica para o Brasil.
Em conclusão, os acordos entre Brasil e China no G20 oferecem oportunidades significativas para o agronegócio brasileiro, em especial, para Mato Grosso. Mas, também, apresentam desafios que exigem atenção e estratégia. A certificação sanitária é um componente crítico para acessar o mercado chinês, e o Brasil deve continuar a investir em seus órgãos de Defesa Agropecuária, como o INDEA/MT em Mato Grosso, o qual deverá dar atenção especial a tecnologia e a infraestrutura para manter a fiscaliação ápta a garantir a competitividade dos produtos agrícolas. Ao mesmo tempo, é essencial monitorar os impactos econômicos no mercado interno para garantir que os benefícios das exportações não sejam ofuscados por aumentos nos preços domésticos. Com uma abordagem equilibrada e estratégica, o Brasil pode não apenas fortalecer suas relações comerciais com a China, mas também assegurar o crescimento sustentável de seu setor agropecuário nacional.
Marcelo Galvão Marques é jornalista especializado em política, economia e sociedade. Apaixonado por contar histórias que inspiram e informam, tem se dedicado a explorar temas que impactam diretamente a vida das pessoas, sempre com um olhar atento para a ética e a responsabilidade social. Além de seu trabalho é escritor e advogado no Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso – INDEA/MT em Barra do Garças.