Por: Ricardo Rogers
Em meio ao caos econômico, social e político que parece ser o novo normal no Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu dobrar a aposta. Durante a cerimônia no Palácio do Planalto até a praça dos três poderes para marcar os atos criminosos de 8 de janeiro de 2023, Lula deu um “abraço simbólico” na democracia, enquanto boa parte do país assistia de camarote, ironizando o espetáculo através das redes sociais.
A programação foi recheada de simbolismo, incluindo o retorno de obras de arte depredadas. Mas, enquanto a elite política trocava afagos e reafirmava sua fé na democracia, boa parte nas redes contavam outra história: crise econômica surgindo, aumento em 25% o número de pessoas em situação de rua no país e uma polarização que parece mais sólida que a própria Constituição.
O senador Eduardo Girão classificou o evento como um “teatro do absurdo”, mencionando o caso de Débora Rodrigues, que está presa há dois anos sem sequer ter invadido prédios públicos durante as manifestações de 8 de janeiro.
Nas redes sociais, o evento foi motivo de zombaria. Internautas questionaram como um “abraço simbólico” poderia ajudar a resolver os problemas reais do país.
Lula, por sua vez, parece ter encontrado no STF o parceiro ideal para sua jornada em defesa da democracia. Afinal, quando as ruas estão em chamas, nada como uma boa dose de decisões monocráticas e mandados de prisão para mostrar quem manda.
Entretanto, a aposta no Judiciário como pilar da estabilidade democrática levanta questões inquietantes. Será que essa aliança será suficiente para acalmar um país dividido e em crise? Ou será que estamos diante de um novo capítulo de “Jogos de Poder”, versão brasileira, onde os principais jogadores trocam a governabilidade pelo espetáculo?
Enquanto isso, o povo brasileiro – o grande coadjuvante dessa narrativa – segue à espera de soluções concretas. Porque, no fim das contas, discursos, cerimônias e abraços simbólicos não enchem a geladeira, não pagam boletos e, certamente, não apagam as chamas da insatisfação que consomem o Brasil.
Foto: Rosinei Coutinho/STF