Por: Ricardo Rogers / Barra do Garças
Enquanto o Brasil tenta lavar as mãos com um discurso diplomático, a realidade da Venezuela persiste como um espelho incômodo para a democracia sul-americana. Neste sábado (11), o Itamaraty emitiu uma nota de “preocupação” com as crescentes denúncias de violações de direitos humanos contra opositores do governo Nicolás Maduro, apontando um incômodo tão sutil quanto conveniente.
Sim, o governo brasileiro reconheceu os “gestos de distensão” de Maduro – a libertação de 1.500 presos políticos e a reabertura do Escritório do Alto Comissário da ONU em Caracas. Mas será que esses pequenos passos são suficientes para encobrir anos de repressão, censura e uma economia em ruínas, onde a escassez de alimentos e medicamentos é rotina?
O comunicado do Ministério das Relações Exteriores, permeado por expressões cuidadosas e recortes diplomáticos, parece uma tentativa de manter as aparências, enquanto evita uma confrontação mais dura com o vizinho problemático. É como o vizinho que reclama do som alto da festa, mas não ousa bater à porta para exigir silêncio.
“A plena vigência de um regime democrático”, diz o Itamaraty, depende de direitos fundamentais como a liberdade de expressão e a integridade física dos líderes da oposição. Uma constatação tão óbvia quanto a gravidade da situação no país vizinho. Afinal, o que dizer de uma eleição realizada em julho passado, marcada por denúncias de irregularidades, perseguição a candidatos opositores e controle absoluto de instituições pelo governo Maduro?
No entanto, o Brasil segue exortando “diálogo” e “entendimento mútuo”, como se a crise venezuelana fosse uma simples desavença de condomínio, e não o retrato de uma ditadura em ação. Entre a preocupação velada e a prática de denunciar sem pressionar, a mensagem é clara: enquanto a democracia for apenas uma nota de rodapé na política externa, o autoritarismo seguirá morando ao lado, em silêncio, ou com as bênçãos da inércia regional.
Foto: Ricardo Henrique Stuckert