Ainda estou aqui: A perseguição militar contra o Ex-Prefeito de Aragarças, dossiê de 4 décadas é publicado no Arquivo Nacional

Ainda estou aqui: A perseguição militar contra o Ex-Prefeito de Aragarças, dossiê de 4 décadas é publicado no Arquivo Nacional

PUBLICIDADE

capa

Por: Ricardo Rogers Mendonça Manciolli

No Brasil, a ditadura militar (1964-1985) deixou marcas profundas na história do país, com repressão violenta contra qualquer oposição ao regime. Um dos episódios menos conhecidos, mas igualmente relevantes, ocorreu na cidade de Aragarças, onde Hélio Fernando de Almeida Gomes enfrentou uma forte perseguição política.

Hélio Fernando, advogado, historiador, hoje aposentado pelo INSS, foi um militante ativo no movimento estudantil entre 1977 e 1982, na capital de Goiás. Desde jovem, sua alma inquieta o levou a atuar no movimento cultural, sendo professor de teatro ainda no ensino médio. Durante os anos de repressão, mudou-se para Goiânia para cursar Direito na Universidade Católica de Goiás (atual PUC-GO), onde intensificou sua participação política. Sua trajetória foi marcada por desafios e injustiças, que serão contadas adiante.

Hélio Fernando foi eleito prefeito de Aragarças nos tempos de chumbo, uma cidade que havia sido projetada diretamente pelo gabinete da presidência da República dentro de um modelo conservador e autoritário. No entanto, seu mandato foi fortemente vigiado pelos órgãos de segurança do regime.

Ninguém sabe ao certo quantas pessoas perderam suas vidas em Aragarças durante a ditadura militar ou quantas histórias jamais foram contadas, mas a repressão na região foi severa e mortal.

Recentemente, um dossiê confidencial, guardado por décadas e agora exposto pelo Arquivo Nacional de Brasília, revelou a extensão da vigilância sobre Hélio Fernando. Na juventude, o ex-prefeito era um jovem idealista e progressista, identificado pelo regime como “subversivo” por defender ideais que hoje são amplamente aceitos na democracia brasileira. Antes de entrar na política, Hélio vendia exemplares do jornal O Pasquim em Goiânia, uma das poucas vozes contestadoras da ditadura, em uma época em que a imprensa e as comunicações eram controladas pelo governo militar.

Os documentos oficiais do Arquivo Nacional revelam que, em julho de 1983, o extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) e a Polícia Militar de Goiás encaminharam um dossiê a Brasília monitorando cada passo de Hélio Fernando. Em um dos trechos do documento, os militares destacam:

“Com o apoio do Bloco Popular, em dezembro de 1982, encaminhou carta à população do seu município intitulada ‘Agradecimento ao povo aragarcense’, onde faz críticas ao regime vigente no país, dizendo, entre outras coisas, que: ‘Nos últimos dezoito anos, os generais que estão no poder tudo fizeram para manter o domínio político. Mataram, torturaram, baniram e exilaram milhares de patriotas que lutavam pela liberdade e democracia no nosso país’.”

Diante da pressão militar, o diretório municipal do PMDB de Aragarças, partido pelo qual Hélio foi eleito, rapidamente se posicionou contra ele. Em nota pública, o diretório afirmou que

“a doutrina do partido não compactua com a ideologia externada no referido documento”,

isolando o então prefeito. O documento do partido ainda reforçava que, embora combatesse a ditadura, preferia um tom conciliador.

A imprensa local também teve um papel determinante na perseguição a Hélio. O extinto Jornal da Barra de Aragarças publicou matérias infundadas ligando Hélio ao Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), um dos grupos de resistência armada contra o regime militar. Sem qualquer prova, a publicação ajudou a minar sua reputação e facilitar sua deposição.

Com a queda do regime militar, Aragarças também passou por mudanças estruturais. A Fundação Brasil Central, instituição que ligava diretamente a cidade ao gabinete presidencial, foi dissolvida. Hoje, a cidade abriga o 58º Batalhão de Infantaria Motorizado (58º BIMtz), cujas terras ocupam uma área maior que a própria cidade.

Quase quarenta anos depois, Hélio Fernando segue sua carreira como advogado e revisita um passado marcado por injustiças. Sua história ressurge com força, especialmente com a recente onda de revisão histórica que resgata memórias de perseguidos políticos. O Brasil assistiu recentemente ao reconhecimento da história de Rubens Paiva, representado no cinema, e a trajetória de Hélio Fernando se encaixa nesse mesmo contexto de resistência contra a opressão.

“Ainda estamos aqui.”

Hélio Fernando

PUBLICIDADE

nosso araguaia

Fique sempre bem informado!

Fique por dentro de tudo!

Inscreva-se e receba nossas notícias sempre atualizadas

Desenvolvido por