Redação
A Marcha da Família com Deus pela Liberdade, ocorrida em 19 de março de 1964, foi um dos eventos mais emblemáticos do cenário político brasileiro no período pré-governo militar. Organizada por setores conservadores da sociedade, incluindo grupos católicos, empresariais e militares, a marcha foi uma resposta direta ao governo de João Goulart e às reformas de base que ele propunha, vistas por seus críticos como uma ameaça à ordem social, à propriedade privada e aos valores tradicionais da família e da religião.
CONTEXTO
O início dos anos 1960 foi marcado por intensa polarização política no Brasil. O governo de João Goulart, que assumiu a presidência após a renúncia de Jânio Quadros em 1961, enfrentava forte oposição de setores conservadores, que o acusavam de ser conivente com o avanço do comunismo no país. Goulart defendia reformas estruturais, como a reforma agrária, a regulamentação da remessa de lucros ao exterior e a ampliação dos direitos trabalhistas, medidas que desagradavam às elites econômicas e aos militares.
A Guerra Fria também desempenhou um papel crucial nesse contexto, com o medo do comunismo sendo alimentado pela retórica anticomunista, que dominava a política global. A Revolução Cubana, em 1959, e a crescente influência socialista na América Latina intensificaram esse temor.
Nesse contexto, a Campanha da Mulher pela Democracia (CAMDE), liderada por donas de casa e mulheres da classe média alta, emergiu como uma força organizada contra o governo. Inspiradas pelo discurso anticomunista e pela defesa dos valores familiares e religiosos, essas mulheres desempenharam um papel central na organização da Marcha da Família com Deus pela Liberdade.