Por: Ricardo Rogers Mendonça Manciolli / DRT 1607-MT
Em 1789, a França ergueu a bandeira da liberdade, da igualdade, da fraternidade e terminou com cabeças rolando na guilhotina sob a tutela severa de Maximilien Robespierre, o “incorruptível”.
Robespierre julgava estar salvando a Revolução ao esmagar os que, aos seus olhos, atentavam contra ela. Mas onde termina a defesa da democracia e começa o autoritarismo travestido de virtude?
Mais de dois séculos depois, em um Brasil tão marcado por suas próprias turbulências, vemos despontar no horizonte um personagem que, para alguns, parece repetir essa velha tragédia em forma de farsa: Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal.
Sempre sob o argumento de proteger a democracia dos seus inimigos. Mas o paradoxo se insinua, incômodo: pode-se suspender liberdades para garantir a liberdade?
Compará-lo a Robespierre não é acusação leviana, tampouco bajulação. É um alerta. Robespierre acreditava que era preciso “o terror para proteger a virtude”. Moraes, ao punir severamente aqueles que atentaram contra o Estado Democrático de Direito acredita estar imunizando o país contra o retorno do autoritarismo. Mas até que ponto?
O Brasil, país que sempre caminhou à beira de rupturas, pode ver essa prisão como o estopim de uma nova agitação nacional.
E os poderes da República precisarão escolher: responder com equilíbrio ou com mais repressão.
Se a resposta for um novo “Terror” — mais censura, mais prisões preventivas duvidosas, mais liminares que contornam o devido processo — o país arrisca-se a flertar com uma ditadura do judiciário. Em nome da ordem, poderá enterrar a própria essência da democracia: o dissenso.
Robespierre terminou decapitado por seus pares. O Terror foi substituído por outro regime autoritário. A Revolução virou império.
Que o Brasil aprenda com Paris, 1794. Que não sacrifique a liberdade no altar do medo. Que não use a toga como espada. E que não aceite salvar a democracia matando-a.
Ricardo Rogers -MT 04/08/2025
Barra do Garças MT.