Antigos padres das missões salesianas relataram que a Região do médio Araguaia seria o local sonhado por Dom Bosco para abrigar a nova capital do Brasil.

Redação

Aragarças completa hoje 72 anos de emancipação político-administrativa, segundo alguns moradores e pesquisadores, seria aqui o lugar sonhado para ser a capital do Brasil?

Mas até que ponto essa história é verdadeira? Teria mesmo Aragarças sido cogitada oficialmente como sede do poder central? O que dizem os arquivos, os discursos e os sonhos que moldaram o Brasil Central? Nossa equipe mergulhou em acervos históricos, documentos oficiais e relatos locais para desvendar os fios entrelaçados de profecia, política e memória.

Tudo começa com um sonho. Em 1883, Dom Bosco, o sacerdote italiano fundador da Congregação Salesiana, teria tido uma visão misteriosa com uma “terra prometida” entre os paralelos 15° e 20°, onde jorrariam riquezas e se construiria uma civilização de justiça.

O trecho, publicado nas Memorie Biografiche, se tornaria mais tarde parte da simbologia nacional para justificar a interiorização da capital brasileira. Mas, apesar do paralelo bater, não há menção direta a Aragarças nos registros originais do sonho.

No entanto, como mostra a historiadora Vanessa Ribeiro, da Universidade Federal de Goiás, “o uso político da profecia foi feito posteriormente, reinterpretado de forma a legitimar Brasília, mas poderia ter servido para outras cidades, como Aragarças-GO, se o contexto político fosse outro.”

Durante o Estado Novo de Getúlio Vargas, em 1943, foi criada a Fundação Brasil Central (FBC), um órgão federal com o ambicioso plano de integrar o Centro-Oeste e a Amazônia ao restante do país. Seu lema: “Marcha para o Oeste”.

Foi nesse contexto que Aragarças ganhou protagonismo, servindo como base da famosa Expedição Roncador-Xingu, comandada pelos irmãos Villas-Bôas. Hospedou aviões, técnicos, garimpeiros, urbanistas e militares. Ganhou hospital, hotel, aeroporto e até planos de loteamento urbano modernos — antes mesmo de Brasília ser oficialmente traçada no mapa.

O município de Aragarças foi oficialmente criado em 1952, mas já era conhecido no interior goiano como um “ponto de modernidade” no meio do mato. A infraestrutura foi tamanha que, segundo documentos da fundação e relatos locais, houve expectativas reais de que ali se instalasse a nova capital federal.

Moradores antigos recontam que “Getúlio dormiu no hotel da cidade”, e que “só não virou capital porque tinha muito mosquito”.

Talvez não tenhamos virado capital no papel, mas somos capital no coração de quem conhece nossa história.